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Recebi a indicação para conhecer essa página no Instagram através da minha filha. Era um dia difícil para mim, daqueles de angústia e inquietação, de saudades, de preocupação com o avanço da Covid-19 no país, misturada à sensação de indignação e impotência com a ausência de políticas públicas de enfrentamento da doença pelo governo federal que, ao contrário disso, desdenha de mortes, dos mortos, do luto, da tristeza, da precariedade das condições das pessoas vulneráveis nas filas da morte em busca dos 600,00 que lhes garantam o acesso à comida; da imprevisibilidade da vida que essa pandemia nos trouxe. Escutei isso: “ajudará vc a viver o seu luto, mesmo sendo um espaço triste”. Fui lá. Li todas as curtíssimas histórias de vida dos números que ganham nomes na página. Imaginei os rostos, os planos que a doença interrompeu, as despedidas que não aconteceram, os amores que ficaram. Chorei muito mais. Não voltei lá, mas salvei a página.

Hoje li uma entrevista com Judith Butler - na Revista Carta Capital -  situando o luto como um ato político. Uma análise profunda e sensível, politicamente e humanamente referenciada, como tudo que ela escreve.

Encontrei trechos na entrevista que são indicativos da minha própria busca de dizer e falar sobre isso, de não fugir para tentar aliviar a minha angústia e olhar de frente a realidade com tantas perdas diárias que se avolumam; de me enlutar com familiares que enfrentam a realidade dos caixões lacrados,  dos corpos que têm nomes, histórias e foram amores na vida de alguém; de entender esse enfrentamento no campo emocional também como uma corrente de amor e empatia, para além dos dados estatísticos.

Butler diz: “Não é preciso conhecer a pessoa perdida para afirmar que isso era uma vida. O que se lamenta é a vida interrompida, a vida que deveria ter tido a chance de viver mais, o valor que a pessoa carrega agora na vida dos outros, a ferida que transforma permanentemente aqueles que sobrevivem. O sofrimento de um outro não é o seu próprio, mas a perda que o estranho suporta atravessa a perda pessoal que sente, potencialmente conectando estranhos em luto.”

Em nosso país, mais que em outros, o luto é verdadeiramente um ato político.

Conheçam essa página. ❤️


Texto escrito pela professora Suzanna Alice Lima - Diretora do DEDC/UNEB - Senhor do Bonfim, Bahia.

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1 comentario


gabriel.olyvver
14 may 2020

Incrível esse texto, me senti tocado por todas as palavras e muito mais emocionado pela situação em q o país está!

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