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Reflexões sobre as 300 mil mortes e a região de saúde de Senhor do Bonfim, Bahia



Completado um ano da emergência de saúde pública em decorrência da pandemia da Covid-19 no Brasil, acumulamos a triste marca de 13.013.601 casos confirmados e de 332.752 óbitos. Gostaríamos de propor uma breve reflexão sobre alguns aspectos da evolução da pandemia no Brasil e, mais especificamente, na Região de saúde de Senhor do Bonfim, Bahia. A referida região, até o momento, acumula 13.220 casos e 188 óbitos atribuídos à COVID-19 (BRASIL, 2021).


Em janeiro de 2021 os Estados Unidos foram o país com maior número acumulado de óbitos (395.851), seguido do Brasil (209.296), Índia (152.274), México (140.241) e Reino Unido (88.747) (BRASIL, 2021). Desde o primeiro semestre de 2020, o Brasil está entre os países com maiores números de casos e óbitos confirmados. O país exibe notáveis diferenças regionais com o Amazonas apresentando as maiores taxas de mortalidade (331,8/1 milhão) (CAVALCANTE et al., 2020).


Na região de Sr. do Bonfim, o primeiro óbito foi registrado em Itiúba, no dia 18 de maio de 2020. Nota-se que doze meses após, a região totalizava 188 óbitos. O total de mortes ocorridas durante os primeiros seis meses (maio/outubro de 2020) concentrou-se nos municípios de Campo Formoso, Pindobaçu e Senhor do Bonfim, totalizando 70,6% dos óbitos da região. Nesse momento, quatro municípios concentram 68% dos óbitos: Senhor do Bonfim (50), Campo Formoso (30), Pindobaçu (24) e Filadélfia (22) (PORTAL GEOCOVID).


Dentre os aspectos que carecem de um olhar mais acurado ao analisar a evolução da pandemia e as diversas formas de enfrentamento da mesma, podemos destacar questões relacionadas à disseminação do vírus e às variantes, ao colapso do sistema de saúde, à negação da ciência, às condições de saúde das pessoas acometidas, às desigualdades de saúde, sociais e econômicas, bem como questões envolvendo gênero, raça e classe social que se exacerbaram com o avanço da pandemia.


O enfrentamento da Covid-19 no Brasil necessita de uma coordenação nacional que se paute na ciência para realizar recomendações de enfrentamento à crise sanitária aos estados e municípios de acordo com os cenários epidemiológicos destes, considerando o tamanho continental do país. Ao invés disto, nota-se que o Ministério da Saúde não conseguiu exercer o comando único que auxiliaria na homogeneização das medidas, bem como forneceria mais credibilidade às ações adotadas por estados, municípios e população em geral.


Contribuindo para este cenário, o presidente Jair Bolsonaro desde o início da Pandemia estimula aglomerações, minimiza os efeitos da doença, desestimula o uso de máscaras e provoca rupturas diplomáticas com países responsáveis pela fabricação de insumos essenciais ao enfrentamento da pandemia, a exemplo das vacinas (BRUM, 2021).


A Pandemia no Brasil apresentou uma redução no crescimento de casos e óbitos de julho a dezembro de 2020, houve uma reabertura das atividades não essenciais na maioria dos locais com reduzida ou nenhuma fiscalização para que a reabertura fosse realizada de maneira segura. Desse modo, observou-se o aumento de aglomerações, sem a adoção de medidas preventivas como o uso da máscara e o distanciamento, neste contexto, começaram a surgir variantes do Sars-Cov 2, vírus responsável por provocar a Covid-19.


As variantes que circulam predominantemente no Brasil são a variante descoberta no Reino Unido e em Manaus. Pouco se sabe sobre como essas variantes mudam o curso da COVID-19, no entanto, associado ao surgimento delas viu-se um aumento significativo de novos casos, apontando para uma possível maior infectividade do vírus com casos graves em faixas etárias antes não consideradas de risco como adultos entre 30-50 anos e aumento da letalidade neste grupo.


Com o crescimento dos casos graves, os serviços de saúde estão vivendo mais um momento de sobrecarga, evidenciado pela falta de leitos em diversos estados da federação, sendo necessária transferências interestaduais de pacientes, e até mesmo pela falta de oxigênio em algumas cidades o que ocasionou mortes por asfixia em pessoas internadas. A reabertura de hospitais de campanhas, que já haviam sido fechados em vários estados, é uma resposta dos governos estaduais ao iminente colapso do sistema de saúde, em que não há leitos em hospitais públicos e privados, aumentando a mortalidade da COVID-19 e outras doenças por desassistência.


Neste contexto, as medidas econômicas mais importantes, que visavam impactar as consequências da crise sanitária nas populações mais vulneráveis e vulnerabilizadas, bem como socorrer os pequenos comerciantes, foram suspensas pelo Governo Federal. A liberação de recursos nesse momento emergencial é uma obrigação do Estado e cabe aos governantes dar celeridade para que isto aconteça.


Sem acesso aos recursos provenientes do Governo Federal trabalhadores, em sua maioria pretos e pardos, aglomeram-se no transporte público para trabalhar, muitas vezes na informalidade, sem direitos, sem as devidas proteções para não se contaminarem.


A pandemia no Brasil escancarou as desigualdades sociais de um país excludente, que o modo de adoecer e morrer está delimitado diretamente pelo lugar que o indivíduo ocupa na sociedade. Assim, o discurso das medidas protetivas esbarra-se com a realidade do sujeito. Ficar em casa por vezes significa estar mais suscetível à violência doméstica, principalmente para as mulheres, crianças e adolescentes, significa não ter dinheiro que garanta a alimentação mínima para sobrevivência, o pagamento do aluguel ou da água para higienização das mãos.


Deste modo, em um ano de pandemia e também deste projeto, pôde-se observar que o Brasil, apesar de ter o maior Sistema Público de Saúde do mundo, por questões políticas, econômicas, culturais e sociais, chegou a esta triste marca de mais de 300 mil mortos. É importante ressaltar que o Sistema Único de Saúde, nessa ilha de desordens, tem amparado a população brasileira seja na assistência inicial de rastreamento dos casos, à assistência em Unidade de Terapia Intensiva que possuem custo altíssimo para uma população paupérrima. Além disso, distribui as vacinas contra a COVID-19 em todo o território nacional, chegando nos locais mais longínquos.


No acompanhamento diário da evolução da pandemia no Brasil e, especificamente na região de saúde de Senhor do Bonfim, acreditamos que é fundamental para a redução de óbitos que a vacinação seja acelerada nos territórios. No entanto, sem uma maior disponibilidade de imunobiológicos, restrições de mobilidade de acordo com a realidade epidemiológica de cada local, rastreamento dos casos de forma contínua, testagem para busca/confirmação da circulação de variantes do vírus e manutenção de leitos de UTI na região mesmo que a pandemia arrefeça, a vacinação torna-se uma gota d’água no sertão.


A região de Senhor do Bonfim, mesmo antes da pandemia, já enfrentava desafios na garantia da saúde da população, seja por apresentar baixos IDH, possuir restrita assistência de alta complexidade para adultos e populações mais vulneráveis como quilombolas que habitam no território. Com a pandemia descontrolada no Brasil, a região precisa lançar mão de todas as estratégias estabelecidas para o enfrentamento dos desafios e, sobretudo, resistir.


Texto escrito pelas professoras: Cleuma Sueli Suto, Eliana Sacramento, Mariana Costa e Simone Santana.


REFERÊNCIAS

BRASIL. COVID-19 no Brasil. Sus Analítico. Brasília (DF). Disponível em:<https://susanalitico.saude.gov.br/extensions/covid-19_html/covid-19_html.html>. Acesso em 06 de abril de 2021.

BRUM, Eliane. A Covid-19 está sob o controle de Bolsonaro. El País. 04 de março de 2021. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/opiniao/2021-03-03/a-covid-19-esta-sob-o-controle-de-bolsonaro.html>. Acesso em: 06 de março de 2021.

CAVALCANTE, João Roberto et al. COVID-19 en Brasil: evolución de la epidemia hasta la semana epidemiológica 20 de 2020. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 29, n. 4, 2020. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2237-96222020000400306&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>.

PORTAL GEOCOVID. Geocovid-19. Disponível em: <https://portalcovid19.uefs.br/> . Acesso em: 18 de maio de 2020.


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